Comportamento

Pelo direito de fazer uma pausa, repensar a vida e os objetivos antes e depois dos 30

A ausência se faz necessária a partir do momento em que percebe-se que nada mais faz sentido. Trabalhar no piloto automático é uma das coisas mais tristes que pode acometer a um assalariado. Necessário, porém não traz leveza na alma. O estresse, as frustrações, as inseguranças, as cobranças: tudo junto, ao mesmo tempo. Foi preciso parar. É surreal pensar que os 30 (sim, essa idade tão falada e tão comentada) não signifique nada mais do que três décadas do relógio da vida. Era inconcebível pensar que o que fazia seu coração vibrar hoje em dia pulsa com menos força e num compasso mais lento no presente. Como se a vida estivesse o tempo inteiro indicando a direção oposta.

Com essa pausa ganhei de aprendizado que as coisas só funcionam quando há intensidade envolvida. Quando há amor, vontade e muita dedicação, quase que 24 horas por dia, quando há de fato o querer, e eu não queria . Não é apenas falar sobre algo, é entender o que esse algo está causando de impacto a ponto de ser falado por centenas de pessoas. É filtrar a audiência e ir na contramão desse bombardeio de lançamentos a todo instante. É entender que o mercado joga com você o tempo inteiro e que o descontrole pode, sim, trazer momentos complicadíssimos como consequência, como a compulsão por comida e artigos de luxo. É a consequência do capitalismo onde o ter e o ser se esvaem numa liquidez que Bauman ficaria mais perplexo ainda após escrever o seu “Modernidade-Líquida”.

Chegamos a um nível de exaustão tão grande que é difícil decidir se nos acomodamos ou mudamos a direção do barco. Ninguém vai dizer a alguém perto de virar uma balzaquiana o que deve ser feito. Não vai ter ninguém no final do caminho a esperando. Ela terá que trilhar essa jornada complexa sozinha. E se ocorrerem imprevistos no meio do caminho? A mulher adulta não poderá culpar ninguém senão a si própria por suas escolhas. E amadurecimento é exatamente isso: ponderar, ouvir, contrapor, se opor e principalmente, agir com prudência e planejamento. As cobranças, sinto informar,  se tornam ainda mais duras. É o tal do “Mal estar do Século” que o filósofo tanto falava: “Nada nunca está bom”.

Empoderada o suficiente para assumir um cargo alto, mas não o suficiente para sair da casa dos pais ou encarar as próprias contas parceladas em 2345 vezes no cartão de crédito. É difícil ter que escolher entre produtos de limpeza na ala do supermercado a guloseimas e coisas que nos deem aquele prazer momentâneo. O cuidado com o corpo torna-se ritual, quase que religioso. Ácido Hialurônico para preencher linhas finas e rugas, ácido glicólico para a renovação da pele, niacinamida para a hidratação, esqualano para auxiliar a juventude, essências para potencializar ainda mais os outros produtos e por fim, uma aguinha finalizadora para encerrar o processo. E no final do dia, 15 minutos é tudo que resta para você? Aliás, você tira pelo menos 15 minutos para fazer um balanço do que ocorreu de bom e não tão bom assim no seu dia? Há quanto tempo você não fica de frente para o espelho e tem um olhar mais gentil sobre você? É necessário mesmo tudo isso que faz parte da sua rotina, ou apenas acomodou-se e está na função “recarregue seu celular na tomada”?

Às vezes está tão inerte na vida de todo dia que não consegue nem olhar para os lados, como se o chão fosse mais seguro, como se sair da linha fosse algo ruim, como se a vida não estivesse passando por nós como se faz em uma maratona da São Silvestre, rápida e cada vez mais veloz. Foi necessário parar, sentir o vento, pegar o sol, respirar e entender que os caminhos conquistados fazem parte de uma história linda, que tem muitas ramificações e nenhuma direção. É preciso paixão a cada dia, ardor, vontade de fazer melhor  eu diria, mas quem disse que é fácil? Esse é um manifesto para que todos possam dar uma pausa, pegar fôlego e dar um impulso (recuar jamais) para alçar voos cada vez mais longos.

OBS: Pautas com projetos bacanas com o intuito de ajudar ao próximo terão sempre espaço de divulgação neste veículo.

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Perfil

Bianca Lobianco é jornalista, carioca, tem quase 30, é fã de música pop, novelas e adora um hambúrguer. Vê na moda e na beleza uma possibilidade de se reinventar de acordo com o humor, sem grandes complicações.

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