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Precisamos te fazer entender de uma vez por todas que a vítima jamais tem culpa em caso de estupro

Uma notícia de um estupro coletivo de uma jovem de 16 anos envolvendo mais de 30 estupradores em uma favela no Rio de Janeiro chocou as mulheres do país. O fato bárbaro causou indignação e repulsa e aumentou ainda mais o medo latente no íntimo de cada uma de nós. Não deu nem três horas após o ocorrido e milhares de pessoas começaram a vasculhar a vida da adolescente. Imagens foram parar nos grupos de whatsapp, como se o ato criminoso fosse justificável por conta de algum tipo de conduta da vítima. Sim, você leu certo. Ela é a vítima dessa história perversa. Não tente justificar o crime (sim, é crime) buscando fatos para mudar isso.

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Dos 30, todos estão em perfeitas condições, são pais de família, são filhos, irmãos e tios. Foram mais de 30 homens perversos. Eles não são doentes, não cogite isso. O nome disso é crueldade, misoginia, prazer em ver o corpo de uma mulher sendo ferido, em ser invadido. Dos mais de 30, alguns tem filhas, mulheres, sobrinhas, tias e mães. Dos mais de 30, não houve um que tentasse impedir tamanha brutalidade. Pelo contrário, se vangloriaram do ocorrido e a expuseram. Dos mais de 30, nenhum se arrepende.

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Nesses dois dias de repecurssão da mídia, a cada notícia algum homem do meu convívio tentava minimizar o ocorrido. A cada fato divulgado, mais de 10 argumentos são produzidos para culpar a adolescente, supondo hipóteses inimagináveis para responsabilizar a vítima pela bestialidade ocorrida. É assim que funciona a cultura do estupro nessa sociedade com o patriarcado tão enraizado em que vivemos. Onde a culpa nunca é do agressor e, sim, da vítima.

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E assim, os homens vão silenciando os milhares de casos de estupros que acontecem todos os dias. Relativizando as situações, minimizando o ocorrido. Os discursos de ódio vão se perpetuando e apenas a proximidade faz com que se sintam tocados, alguns nem isso.

Esse caso me fez refletir no tanto de coisas que sucederam em relação a ele. Me fez ver que muitas pessoas precisam desconstruir pensamentos machistas e muitas vezes até misóginos. Ninguém é estuprada porque quer, ninguém pede pra ser estuprada, ninguém quer isso. Os homens não tem instinto, eles são racionais. Ninguém é doente, as pesssoas têm plena consciência da maldade que fazem. Não tente justificar a sua misoginia e o seu machismo podre justificando o injustificável. E não vem falar que o feminismo é contra os homens, se não é você que sente medo de cada desconhecido que se aproxima, A QUALQUER HORA DO DIA. Tente, pelo menos uma vez na sua vida, ter empatia e tente pensar que o perigo de ser com alguém próximo a você está mais perto do que você imagina.

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Tente imaginar que ser mulher é uma prova de resistência diária, onde somos julgadas por tudo que fazemos, onde saímos de casa sem sabermos se vamos conseguir voltar. Se algo vai nos acontecer por simplesmente existirmos. Vocês, homens, não imaginam o nosso alerta ligado 24 horas por dia, não fazem ideia do quão pavorosa uma saída de táxi pode ser, de que um percurso de 100 metros pode nos causar reações de repulsa por algumas palavras de baixo calão que escutamos. Vocês não sabem o que é viver na adrenalina, do que é viver com um medo que é latente. Em casos de mulheres negras, a maldade é aumentada em 100 vezes mais.

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Então, quando vierem falar algo contra o feminismo, antes de tudo, entendam que feminismo é humanismo com o próximo e, nós, mulheres, precisamos dele para dar força para outras mulheres que já sofreram as mais diversas agressões fruto do machismo de alguns outros homens. Feminismo é a nossa arma para que ainda consigamos estar de pé, dia após dia, porque todos os dias temos uma vítima de violência contra mulher, fruto desse machismo tão forte na sociedade. Todos os dias temos uma mulher chorando por conta da atitudes de alguns de vocês. Tentem não odiar o feminismo e tentem se colocar no lugar da gente, quem sabe assim, a gente não consegue desconstruir juntos esse pensamentos que se alastram e causam dor a milhares de mulheres. Empatia o nome disso e para as “manas”, sororidade, sempre.

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Em tempo, “Totalmente Demais” chegou ao fim e seus últimos capítulos foram emocionantes. A trama abordou o assédio sexual que milhares de jovens sofrem dentro de casa. A novela mostrou a cegueira das mães que, para não ficarem sozinhas, preferem fechar os olhos para os abusos sexuais que acontecem debaixo do próprio teto. Essas mulheres preferem responsabilizar a vítima, do que aceitar de fato que seu companheiro é um estuprador em potencial e um criminoso.

Eliza, personagem de Marina Ruy Barbosa, tenta fugir de seu padrasto que tenta estuprá-la - Crédito: Reprodução TV Globo

Eliza, personagem de Marina Ruy Barbosa, tenta fugir de seu padrasto que tenta estuprá-la – Crédito: Reprodução TV Globo

O que mais tem é “Gilda” no mundo, precisando de ajuda, e “Elizas” sofrendo caladas a esse tipo de violência, onde os únicos culpados são os “Dino” soltos por aí, uns monstros.  A culpa JAMAIS será da vítima. Espero que a luzinha de alerta tenha acendido na cabeça de milhares de mães que precisam olhar melhor o comportamento de alguns homens que fazem parte da família e convivem com seus filhos. Pois a trama cumpriu o seu papel.

Antes de deixar comentário desaforado por detrás do computador, pare, pense e reflita se vale a pena.

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Perfil

Bianca Lobianco é jornalista, carioca, tem quase 30, é fã de música pop, novelas e adora um hambúrguer. Vê na moda e na beleza uma possibilidade de se reinventar de acordo com o humor, sem grandes complicações.

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