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Com trama rasa, ‘A Regra do Jogo’ enrola o público e se torna cansativa

Com baixa audiência logo de cara, ‘A Regra do Jogo’ conseguiu resgatar a atenção do público. Porém, há muitos fatores que contribuem para o fraco desempenho do folhetim — quase policial — que envolve uma facção comandada por um chefe com pensamentos retrógados e completamente conservador, um policial que não percebe o que acontece ao seu redor e dois bandidos que clamam pela redenção.

As vezes acho que A Regra do Jogo brinca com a nossa inteligência. O fato de o temido Pai desse grupo de bandidos, interpretado brilhantemente por Zé de Abreu, estar sempre à frente de todos os personagens envolvidos me dá uma certa agonia e a sensação de que a novela está dando voltas e mais voltas para finalmente chegar ao ápice.

Nelita e Belisa, consideradas as pessoas sem credibilidade alguma na trama, parecem ser as mais lúcidas e enxergam os fatos com mais clareza do que todos da família Stewart.

Crédito: TV Globo

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E o que dizer de Dante, o policial banana, interpretado por Marco Pigossi, que não enxerga um palmo que não seja seu próprio umbigo? Dante é a caricatura de uma polícia despreparada, que não usa as armas que tem ao seu favor.

Crédito: TV Globo

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Dante é o retrato da incompetência de um sistema que prepara mais homens para a guerra do que, de fato, para agir com racionalidade. Dante sem a ajuda de Juliano, filho de um dos caras que pertece à facção, não é nada.

E por falar em Juliano — o mocinho mais injustiçado de todos os tempos que comeu o pão que o diabo amassou nas garras da organização criminosa — realmente merece ganhar um distintivo de policial investigativo da Darco. Todos fizeram um trabalho de investigação exemplar, exceto Dante.

A esperta Atena, intepretada por Giovanna Antonelli, com seu humor ácido, era para ser uma grande vilã, mas foi reduzida a uma mulher completamente dependente emocionalmente do amor de Romero, o heroi de araque do povo. Mas a dobradinha com Ascânio — Tonico Pereira — traz um certo tom tragicômico à peronagem.

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Alexandre Nero pode ser um excelente ator, como vimos com o Comendador Zé Alfredo de Império, mas seu papel está completamente caricato. Romero Rômulo sempre aparece com os olhos arregalados e de boca aberta. Assim não dá! O ongueiro que luta pela redenção mostra um lado dúbio, nem tão mal e nem tão ruim. A dupla com Giovanna Antonelli favoreceu o personagem, que causou um certo frisson no público, que torce para que o casal de vigaristas fiquem juntos no final. Seria uma inversão de valores da sociedade?

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Já a mocinha Tóia está mostrando a que veio, pena que demorou cerca de oito meses para isso. Finalmente Vanessa Giácomo está mostrando todo seu potencial, mas, ainda assim, pode mais. E quem sabe ela não tira esse estigma de Chatoia?

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Mas uma coisa é inegável, a personagem que entrou no meio da história está dando o que falar. A interpretação de Deborah Evelyn com a sua Kiki, desaparecida e que teve uma filha com seu próprio carcereiro, é visceral, completamente entregue aos acontecimentos. A carga dramática da Kiki está no tom certo, nem tão exagerado e nem tão apático. Não existe ninguém melhor do que a própria Deborah para interpretar uma personagem tão cheia de dilemas e com sentimentos tão aflorados. O autor deveria se aprofundar mais sobre a síndrome de estocolmo que Kiki sofreu durante o seu cárcere de oito anos. Além de explorar todas as vertentes da personagem, iria trazer mais emoção para a trama.

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A Regra do Jogo é uma novela cansativa, com núcleos desconexos que faz os telespectadores desistirem no meio do caminho. Não é uma trama de acompanhamento assíduo. O folhetim desperdiça grandes atores como Susana Vieira, Marcos Caruso e Alexandra Richter com personagens rasos e completamente secundários. Se nada der errado, ainda dá tempo de a trama desenvolver melhor as explicações do sequestro de Kiki e não deixar a revelação de quem é o chefe da facção para o último capítulo. Esperamos que não sejamos enrolados mais ainda até lá.

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Perfil

Bianca Lobianco é jornalista, carioca, tem quase 30, é fã de música pop, novelas e adora um hambúrguer. Vê na moda e na beleza uma possibilidade de se reinventar de acordo com o humor, sem grandes complicações.

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